Grupo Rangel investe na gestão familiar

Nuno Rangel já está a ser preparado para suceder ao pai na liderança do grupo que, ao fim de 33 anos, mantém a ambição de ser multinacional.

Quando se pensa em passagens de testemunho familiar em companhias portuguesas, o grupo Rangel é um bom exemplo de sucesso. Na véspera de celebrar 33 anos da criação da empresa, Nuno Rangel, administrador do grupo, com 32 anos de idade, revela um entusiasmo pela internacionalização e pelos projetos que quer empreender para levar mais longe o legado do pai e o nome Rangel.

Um caminho que começou na Maia há mais de 40 anos, quando o espírito empreendedor e a vontade de vencer dominavam a atitude de Eduardo Rangel e o ajudaram a construir uma das maiores empresas de transporte e logística do País. Este perfil foi decisivo para enfrentar as dificuldades de ter nascido numa família humilde e para perseguir os seus objetivos. Depois do Curso Geral de Comércio, e através de um contacto do avô, Eduardo Rangel trabalhou para a Alfândega do Porto. Nessa altura, queria ser despachante mas a vida iria levá-lo mais longe.

Nuno Rangel lembra bem os primeiros passos na primeira empresa do pai, criada em 1980. Tinha apenas um ano de idade e Eduardo Rangel só operava no serviço aduaneiro num escritório da Rua da Restauração no Porto. "Recordo-me desse escritório. Hoje tenho 33 anos e a Rangel tem 32. Fui-me inteirando do negócio [mais tarde] de forma muito natural. Nunca senti nada imposto. Gosto do que faço e ele [pai] tentou, desde muito cedo, dar-me essa opção", assegura.

Nos anos seguintes, com o início do Mercado Único Europeu, dá-se uma redução drástica na atividade dos despachantes em Portugal. Eduardo Rangel percebe isso e muda os seus planos - afinal, em matéria de transporte e logística, estava tudo por fazer no país.

Planos internacionais

O momento-chave da mudança ocorre em 1990, quando o conceito de empresa dá lugar ao de grupo. Primeiro aposta no transporte terrestre, depois na distribuição e logística, com um "golpe de sorte" que resulta da parceria com a Hewlett-Packard. Daqui aos transportes marítimo e aéreo foi um pequeno passo.

Nuno Rangel não tem hoje qualquer dúvida de que a internacionalização é o caminho certo para o grupo. Depois da Europa (sobretudo Espanha), Angola e Moçambique, o sucessor ao comando dos destinos do grupo aventura-se no Brasil. "Tenho estado a ser preparado para assumir a função que tenho hoje e terei no futuro. Claramente, vi que, se esta missão era para mim, tinha de fazer alguma coisa lá fora", refere o administrador.

Outro cartão de visita do grupo é, desde 1999, a parceria com a FedEx, empresa americana líder mundial no serviço expresso 'courier'. Sempre em busca de mais nichos de negócio, o grupo Rangel começou em 2009 a trabalhar numa nova oportunidade de crescimento: a farmacêutica.

"Os laboratórios da indústria farmacêutica são nossos clientes. Armazenamos os produtos, recebemos as encomendas por via eletrónica, processamo-las, fazemos o 'picking', embalamos e distribuímos a nível nacional e nas ilhas", explica Nuno Ramalho, director-geral da Rangel Distribuição e Logística.

É no Montijo que se concentra o cérebro desta operação que representa boa parte do investimento feito pelo grupo nos últimos anos em Portugal. Afinal este negócio, mesmo em tempo de crise, também está a ser uma oportunidade em Espanha. No Montijo está ainda sediada uma das maiores plataformas logísticas da Rangel, mas não é a única - no total são 15 em Portugal Continental e Ilhas.

Ambição de multinacional

Para que a gestão do dia-a-dia seja a mais eficiente possível, o grupo tem procurado estar um passo à frente da concorrência. "A nossa flexibilidade, a capacidade de nos adaptarmos facilmente às necessidades dos clientes e a aposta no que de mais inovador existe neste sector de atividade são dois fatores de diferenciação muitos importantes", afirma Nuno Rangel.

Passados mais de 30 anos, o grupo emprega 1.153 pessoas e fatura cerca de 118 milhões de euros. Nuno Rangel sabe que a passagem de testemunho acarreta responsabilidade, mas garante que lhe passaram bons valores. "Hoje as pessoas parece que não ligam muito, mas eu aprendi, com o meu pai, a importância da palavra dada num negócio. Talvez tenha sido um dos seus maiores ensinamentos", conta.

E daqui a 32 anos, onde poderá estar o grupo Rangel? O gestor não tem dúvidas: gostaria que fosse uma "grande multinacional. Mas com sede em Portugal e capital maioritariamente português".

Fonte: Económico